quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cada louco com a sua mania

Cada louco com a sua mania, dizia uma velha chupando ranho do nariz de outra velha. Ouvi esse ditado escatológico há muitos anos, ditado cuja imagem ainda reverbera nas minhas tão fatigadas retinas acho que por trazer em si uma verdade universal. Mas ele é só um pretexto para eu discutir outra coisa: a imagem. Ah, não, mais um texto sobre a cultura da imagem e blablabla? Não. Eu quero discorrer aqui sobre a imagem da palavra. E de uma palavra em específico: lambuzar. É verídica esta história. Estava eu traduzindo quando uma amiga, também tradutora\revisora, me escreve no Gtalk que acha muito esquisito a palavra 'lambuzar' ser escrita com 'z'. Cá com os meus botões, penso um pouco e aperto alguns deles do meu teclado (que nem é meu, mas da empresa, ó língua inexata!), respondo que não concordo e justifico com o argumento de que a letra 's' é muito mais furtiva e, se 'lambuzar' fosse escrito 'lambusar', daria um efeito visual mais escorregadio. Não demoro muito a acrescentar que a minha loucura é tamanha que filosofo sobre o efeito visual que uma letra causa numa palavra, então ela concorda comigo e diz que acha ótimo. É mais louco o louco ou aquele que diz que ele tem razão? Quanto a isso, ela prefere crer que é o outro. Sempre. Ah, Mário de Sá-Carneiro, pilar da ponte de tédio... Enfim, os meus dez mil pensamentos concomitantes puxam a música "Geni e o zepelim", que conhece muito bem o sentido e os efeitos da palavra 'lambuzar', seja com 's', seja com 'z' — e quem sabe até com 'x', que é uma letra doida o bastante para trazer vários fonemas no seu próprio corpo? Cada louco com a sua mania. Uns jogam pedra na Geni; outros usam, abusam, lambuzam.