sábado, 30 de julho de 2011

Dizem que é um ano...

Há um ano que não vejo-te o sorriso.
Há um ano que não ouço a sabedoria de tua voz.
Há um ano que não sinto no ar tua presença.
Há um ano que não sorvo o gosto de teu chimarrão, feito pelas firmes mãos, que há um ano também não sinto entre as minhas e que tanto trabalharam por mim, por meus irmãos, primos, pais, tios, tias... família!
Dizem que é um ano o tempo de luto. Mentem.
Sim, nos acostumamos com a ausência, sim, seguimos vivendo, sim, sorrimos e nos alegramos e comemoramos as vitórias e conquistas! A dor aos poucos fica mais branda. Mas não passa. E não esquecemos.
Sinceramente, tenho pena das pessoas que não são filhos da Grande Mãe Língua Portuguesa, já que nunca serão capazes de compreender, em profundezas, quão intensa é a palavra saudade. Não há, nem nunca haverá, escala capaz de medir as saudades de um ser humano.


Estás ali, vô, marmóreo, esculpido pela memória em meu coração!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cativar

Manhã preguiçosa de trabalho, foi ao ler os versos camonianos

"São para nos matarem e roubarem.
E mulheres e filhos cativarem"

que percebi o paradoxo significativo do verbo cativar. Lembrei-me da raposa do Petit Prince (estou estudando francês!) a pedir "Cativa-me!".
Ora, car@s leitor@s: terão o primeiro e o segundo cativar o mesmo sentido? Não.
Consultei um dicionário:

1. Tornar cativo, prisioneiro; CAPTURAR; ESCRAVIZAR [td. : Os caçadores cativaram vários animais]
2. Fig. Ligar ou ficar ligado, de modo forte ou permanente, a algo ou alguém, por vínculo pessoal, intelectual ou afetivo [tdr. + a : Cativava a estética à ética: Cativou -se à inteligência do professor.]
3. Fig. Obter a estima, a amizade, ou o amor de [td. : Cativou a criança antes de adotá-la]
4. Fig. Seduzir, conquistar [td. : Cativou a garota com sua atitude sedutora]
5. Fig. Apreender, reter [td. : Seu rosto cativava o esplendor da manhã]
6. Fig. Ficar enamorado [int. : Cativou-se da filha do vizinho]
[F.: do lat. tard. captivare. Hom./Par.: cativo (fl.), cativo (a. e sm.); cativa (s) (fl.), cativa(s) (sf.[pl.] e fem. de cativo(s) [a.sm. e pl.]).]

http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=loadVerbete&pesquisa=1&palavra=cativar

Curioso pensar que cativar foi da prisão à liberdade, pois amar é libertar. Ou não?

Debate sobre isso à parte, creio que se a linguagem permitiu tamanha trans-significação a esse humilde verbo, o que não permitirá a um poeta fazer com o ser humano?

A laborar, ou elaborar!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Zizi Possi

Assisti ao espetáculo Sinfônica Pop com Zizi Possi. Nunca fui muito fã da cantora, e continuo não achando sua voz algo extraordinário. Claro, trata-se de uma bela voz muito bem dominada por sua dona. Porém não quero comentar o que ouvi, mas o que vi - não, eu não estou ficando caduco e trocando os verbos. Quero falar que eu vi a música. Explico: entrou Zizi Possi calmamente, tranquilamente, seguramente, com um cabelo perfeitamente arrumado e uma roupa linda (perdoem-me, car@s leitor@s, pelo uso excessivo de advérbios. É que palavras são a única ferramenta que eu tenho para tentar expressar minha perplexidade naquele momento - em vão, diga-se de passagem, eu sei...). Com uma imensa simpatia, ela fala algumas palavras e começa a cantar. Logo me encanto, não por ouvi-la, como já ressaltei, mas por vê-la. Cada movimento seu era preciso. Sutilmente, o corpo de Zizi acompanhava sua voz tornando visível a canção e a música. Era como se não se precisasse de ouvidos e de audição para apreciar aquela arte, podia-se perfeitamente compreender a música com os olhos. E quando ela interpretou uma das canções mais famosas gravadas por sua voz, "Per amore", entendi o significado de um verso de Drummond. Seu coração cresceu dez metros e explodiu. Um pedacinho adentrou o meu. E ali permanece!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Há vezes em que sinto uma necessidade imensa de me expressar, e ao mesmo tempo toda a impossibilidade do mundo de isso realizar, pois os silêncios me constituem com tamanha perfeição que me vejo impelido a me render e calar.

sábado, 2 de julho de 2011

Dia 29 de junho fez 7 anos de minha trágica cirurgia de desvio de septo, que virou em septicemia, que quase foi minha sentença de morte. Todos os anos lembro disso, cada vez com menos intensidade. Porém hoje passei os olhos por um programa de TV em que uma menina conhecia a esposa de um homem que morreu e cujo coração foi doado por esta para aquela. Lembrei-me do filme "21 gramas". E de que, naqueles dias internado em um CTI, recebi duas bolsas de sangue.
Na época, pensei muito sobre quem seriam os doadores. Aquele sangue que me ajudou a viver não era meu, não era eu. De quem seriam aquelas partículas de vida que passaram a também me constituir? Não sei, preferi e ainda prefiro o mistério. Pois por mais profunda que seja minha investigação, nunca tive nem sequer um vislumbre de EU, assim, com as letras maiúsculas para dar uma ideia da grandiosidade da coisa. EU sou a coisa. A coisa é indefinida. Eu sou indefinição, inconstância. Eu sou híbrido, pois correu por minhas veias sangue que não era meu. Eu sou eu próprio e sou outros. Ou sou fusão?
É como quando me recusei a comer carne de jacaré. Tive medo. De quê? De que aquela estranha substância mudasse minha constituição, e então minha personalidade e minha identidade. Não quis correr o risco de não mais me saber.
Mas com o sangue não tive escolha (nem forças eu tinha para recusar...). Recebi as duas bolsas e me alterei.

PS: Ainda devo as duas bolsas de sangue à sociedade, e ainda luto para engordar uns 2 quilogramas antes de doá-las. Se é que me será permitido, mas isso já é outra discussão...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

eu sou do tamanho da minha loucura e minha loucura é do tamanho de minha lucidez. descomunal, eu sou as minhas sensações.