quarta-feira, 25 de março de 2009

Dia zero

Disse o homem: haja Deus!
E houve Deus.

Whisner Fraga

sábado, 21 de março de 2009

Outono

Ontem era equinócio de outono, mas eu acabei me enrolando e não escrevi aqui. Talvez porque era equinócio de outono e a noite tem a mesma duração que o dia. Pode parecer bobagem, mas eu me sinto conectado com essas coisas. O clima, a estação, o tempo influenciam minha mente, meu corpo, meu coração. E o equinócio de outono significa o fim do verão, que eu odeio, e o prenúncio da chegada do inverno, que eu amo!
A razão de minha simpatia por equinócios e solstícios deve estar na origem pagã dessas festas. Eu imagino as fogueiras, a música, as substâncias alucinógenas e todo aquele clima de culta à Grande Deusa e me dá uma saudade de algo que nunca vivi... Vá entender isso???

Pra terminar, um poema de Elisa Lucinda chamado Ele

Já começa a beijar meu pescoço
com sua boca meio gelada meio doce,
já começa a abrir-me seus braços
como se meu namorado fosse,
já começa a beijar minha mão,
a morder-me devagar os dedos,
já começa a afugentar-me os medos
e a dar cetim de pijama aos meus segredos.
Todo ano é assim:
vem ele com seus cajás, suas oferendas, suas quaresmeiras,
vem ele disposto a quebrar meus galhos
e varrer minhas folhas secas.
Já começa a soprar minha nuca
com sua temperatura de macho,
já começa a acender meu facho
e dar frescor às minhas clareiras.
Já vem ele chegando com sua luz sem fronteiras,
seu discurso sedutor de renovação,
suas palavras coloridas,
e eu estou na sua mão.
Todo ano é assim:
mancomunado com o vento, seu moleque de recados,
esse meu amante sedento alvoroça-me os cabelos,
levanta-me a saia, beija meus pés,
lábios frios e língua quente,
calça minhas meias delicadamente
e muda a seu gosto a moda de minhas gavetas!

É ele agora o dono de meus cadernos, meu verso, minha tela,
meu jogo e minhas veretas.
Parece Deus, posto que está no céu, na terra,
nas inúmeras paisagens,
na nitidez dos dias, no arcabouço da poesia,
dentro e fora dos meus vestidos,
na minha cama, nos meus sentidos.

Todo ano é assim:
já começa a me amar, esse atrevido,
meu charmoso cavalheiro, o belo Outono,
meu preferido.

sábado, 14 de março de 2009

Dia da Poesia

Hoje, 14 de março, é DIA DA POESIA

Segue uma que eu adoro do poeta português Mario de Sá-Carneiro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.


Adriana Calcanhotto musicou o poema e gravou no CD\DVD Público
Eu tentei achar um link no youtube, mas não consegui...

sábado, 7 de março de 2009

A paixão segundo G.H.

É esse o título do livro que acabei de ler. O livro mais difícil, denso e perigoso que já li. É um livro sem volta, depois que você leu, a vida não é mais a mesma. Caio Fernando Abreu escreveu, no conto Eles, que está no livro O ovo apunhalado, que ver é irreversível. Clarice Lispector, a autora do livro do título, faz com que vejamos.
A história é de uma simplicidade imbecil, até mesmo: uma mulher, G.H., entra no quarto que pertencera a sua empregada para arrumá-lo. Mas a empregado o mantinha arrumado, entretando não como ela gostaria. Ela se sente desolcada em sua própria casa. E vê uma barata, e sente medo. Então faz as mais profundas e simples divagações filosóficas sobre ser e existir. O que acontece com ela e a barata eu não conto, só lendo para saber.
Clarice é uma deusa, uma feiticeira, pois suas palavras enfeitiçam. Ela constroi, depois desconstroi e destroi para novamente construir e destruir e reconstruir e desconstruir. Ela acaba com o que há dentro de nós. E depois preenche. Ela escreve com as mais simples palavras, as coisas mais banais, mas vai fundo nas agonias de ser e existir. Podemos sentir a dor dela ao ler, a imensidão de sua compreensão de mundo e de pessoas, de almas, de ser, de existir, de transcender.
Confesso que tive medo.
Ler Clarice é uma experiência singular e imprescindível. Ler A paixão segundo G.H. é sofrer todas as dores da humanidade e crescer imensamente. É uma experiência de paixão.
Pra terminar este breve comentário louco, quero transcrever um pedaço do conto do Caio já referido:
"-Deixa que a loucura escorra em tuas
veias. E quando te ferirem, deixa que
o sangue jorre enlouquecendo também
os que te feriram."
Clarice o fez. Eu a feri. Ela me enlouqueceu.