quinta-feira, 24 de março de 2011

Óculos

Eu uso óculos.

Oh, que constatação besta, dirão meus leitores virtuais, e os que me conhecem dirão, isso eu já sabia.

Pois bem, estava eu sentindo ardências nos olhos seguidamente, o que me levou a consultar um oftalmologista e, por conseguinte, ganhar uma nova receita. Da consulta, constatei que estou a envelhecer, já que o médico me disse que com a idade o grau de hipermetropia diminui, e o meu se reduziu a zero. Mesmo assim, óculos me são necessários, pois tenho astigmatismo.

Fui eu, então, mandar trocar as lentes de meus óculos, mas não quis comprar outra armação. Ou seja, fiquei sem minhas preciosas lentes por uma semana. E sofri.

Ontem peguei meus óculos de volta, e me senti completo (ilusão, mas por que não?).

A falta dos óculos não era somente porque meus olhos ardiam e cansavam mais depressa. Eu sentia como se faltasse uma parte de mim, como se tivessem amputado um membro de meu corpo.
Constato também a dificuldade de se olhar o mundo cruamente. O mundo, a vida, são demasiado violentos para se olhar sem algum proteção (mais uma vez ilusão, que poder de proteção têm meras lentes?).

O fato é que me acostumei com meus óculos e quero-os para sempre.

Amém.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial da Poesia

Semana passada foi o Dia Nacional da Poesia.

Hoje é o Dia Mundial da Poesia.

Desta vez, publico aqui um poema meu, e aproveito pra avisá-los, escassos leitores, que reativei meu perfil no Recanto das Letras, onde encontrarão mais poemas de minha autoria. Segue o link no final, se alguém se interessar...


Poeta eu

Chamam-me louco.
Acho pouco, até.
O fato é que sei ser homem com a força de uma mulher.
Desdobro-me em mil facetas sem perder a virilidade.

Quem sou eu?

Sou aquele que não tem idade
cujas marcas na pele não denunciam o tempo
e cujo olhar não demonstra sentimento.

Minhas feridas não são doloridas. Acostumei-me.
Minhas dores são secretas.

Não venho pra confrontar.
Não venho pra combater.
O que faço é repensar...

A luz fere meus olhos
já tão cansados das visões distorcidas
deste mundo que é tão grande.
Mas o dom da ilusão a mim
não foi concedido.

Então que fazer?
:
deixar a loucura escorrer
por estas veias de sangue tão profundo.
E seguir errando pelo mundo.



Eis o link:


http://recantodasletras.uol.com.br/autores/diogorufatto


Boa leitura!

domingo, 20 de março de 2011

Bethânia e as palavras

Assisti ao espetáculo homônimo a este post.
Como a própria Bethânia falou, é um luxo para a poesia ter a seu serviço ela, intérprete consagrada, e dois músicos, um dos quais o maestro que a acompanha há décadas.

Confusões acerca da Lei Rouanet à parte, quero comentar minhas reações ao ouvi-la e vê-la bem de perto.

O que vi e ouvi foi uma senhora pequeninha, aparentando uma certa fragilidade, em apenas alguns instantes tomar e prender a atenção de cerca de 400 pessoas com seu poder de sedução. Sim, sedução. Se ela é feia? É, para os padrões de beleza físicos, considero-a feia. Mas isso não importa. Feia ou bela, seduz e encanta com a potência de sua voz, com a arte que fala cada palavra na hora certa, com a entonação que lhe dá, à palavra, vida.
Ah, senhor@s leitor@s, falando em palavra que dá vida, não posso deixar de dizer que, passada a estupefação inicial de estar ali, em frente a Maria Bethânia, vendo-a dizer poesia (e dizendo com maestria), fui sendo tomado por tal encantamento que as palavras deixaram de ser meras palavras e lentamente passaram a ter vida, deixaram de ser meras ondas sonoras e transmutaram-se em matéria. Flagrei-me, entre espantado e tomado pela contemplação, flagrei-me, senhoras e senhores, querendo pegar aquelas palavras-matéria, senti-las em minhas mãos, minha pele, sentir sua forma e textura, seu cheiro, e então seu gosto, sim, senhoras e senhores, seu gosto, pois estava eu a querer comer as palavras, como se alimento fossem, e eu, ser humano, fosse capaz de degluti-las, digeri-las e ter meu corpo por elas nutrido. Sim, sim, senhoras e senhores, eu queria comer palavras e aos poucos ter meu corpo feito poesia, ser meu corpo a própria poesia.

Mas logo vieram as palmas e despertei de meu devaneio.

ah, senhoras e senhores, todavia, eu fui aquele, pois contemplei.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia da poesia

Hoje é dia da poesia.

Pra celebrar, transcrevo uma das mais belas que li nos últimos tempo, de Hilda Hilst. Faz parte da série de poemas intitulados "Trajetória poética do ser - passeio", do livro Exercícios.

15

De delicadezas me construo. Trabalho umas rendas
Uma casa de seda para uns olhos duros.
Pudesse livrar-me da maior espiral
Que me circunda e onde sem querer me reconstruo!
Livrar-me de todo olhar que quando espreita, sofre
O grande desconforto de ver além dos outros.
Tenho tido esse olhar. E uma treva de dor
Perpetuamente.
Do êxodo dos pássaros, do mais triste dos cães,
De uns rios pequenos morrendo sobre um leito exausto.
Livrar-me de mim mesma. E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros.

sábado, 12 de março de 2011

Diálogo

- Não vai comer mais uvas?
- Tô comendo poesia. Eu me alimento de poesia.
- Tem gente que se alimenta de luz.
- Poesia é luz.

PS: Eu não comi mais uvas.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Banheiro de aeroporto

Desci do avião ontem em Confins com minha bexiga "cheiérrima". Enquanto colocavam minha mala na esteira, corri pro banheiro. Qual não foi minha surpresa ao sentir um fedorzinho básico de mijo. Logo pensei "credo, um banheiro de aeroporto fedendo", mas não tive muito tempo de pensar, aliviei-me e fui esperar a mala na esteira (que estava recém sendo ligada...). Após pegar a mala, sentado no conforto de um ônibus até o centro de BH, fiquei pensando no tal banheiro. Como pode um banheiro de aeroporto ter cheiro de mijo? Não seria o aeroporto um local frequentado por pessoas de, no mínimo, classe média, ou seja, bem instruídas? Pois bem, não necessariamente. Foi refletindo sobre isso que me dei conta de uma coisa: no principal aeroporto de uma capital, aquele banheiro deve ter recebido mijo de um sem-número de políticos, empresários, administradores públicos etc., gente que, supostamente, trabalha para o bem-estar social. Ora, brasileir@s, a fedentina está explicada! (depois dessa conclusão, percebi que senti um certo cheiro de hipocrisia e dissimulação mesmo...)

Moral da história: Por mais que sejas douto, teu mijo fede igual ao dos outros.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de cinzas

Hoje é quarta-feira de cinzas, dia de não comer carne e refletir e blablababoseiras que tanto ouvimos. Ok, é quaresma. Tempo de jejum e reflexão e doação e blablababoseiras. Só não consigo parar de me perguntar: por que agora, nesses 40 dias?
Ah é, Jesus ficou 40 dias no deserto, jejuando e refletindo e blablababoseiras que tanto ouvimos...

Ficou mesmo?

Eu não tava lá pra ver e não boto minha mão no fogo nem por mim...

Enfim, acabou o carnaval. Hora de sacrifícios, então, vou lá, continuar vivendo.

Até mais!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Música clássica

Fui ontem a um concerto de música clássica, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, no Museu Inimá de Paula. Entrada franca.
Não peguei o programa, portanto não sei precisar quais peças ouvi. Lembro que os compositores eram Wagner, Schumman (acho que a peça se chamava Concerto para Violino em Ré Menor, mas não tenho certeza) e Hayden (é assim que se escreve?).
Enquanto ouvia a orquestra, fui transportado para milhões de lugares. Senti mil coisas diferentes e tive outras mil ideias. O único problema é que todas as sensações e sentimentos não podem ser descritos. São coisas sem nome. São linguagem sem palavra. Mas, e daí?
O fato é que contemplei, e contemplando eu fui feliz, e fui triste, e fui rei, plebeu, uma vaca pastando, um automóvel, fui tosco, fui grande, fui etéreo, eterno, errado e errante, luz, mistério, coelho pensante...

Pensando nisso tudo, ontem demorei para dormir, me perguntando por que as pessoas não gostam de música clássica?
Levantei uma hipótese: por preguiça.
Preguiça? É, sim, preguiça.
Mas não é só ficar ouvindo?
Não, senhoras e senhores, não é só ficar ouvindo. Aí é que está a questão. Volte um pouco e leia quantas coisas eu fui, lá, sentado, ouvindo. E as reticências significam continuidade e um convite, leitores, a preencherem a lacuna que deixei.
A preguiça, desse modo, é de ser. Quem ouve música clássica, não permanece. Nâo é. Está sendo. E, como escreveu Hilda Hilst, "ainda que o trem se mova, tu não te moves de ti", a identidade é itinerante.
Portanto, concluo que quem não gosta de ouvir música clássica - não só música, outras coisas também... - é por preguiça de ousar ser, de ousar sentir, de ousar ousar... E mudar.