sábado, 7 de março de 2009

A paixão segundo G.H.

É esse o título do livro que acabei de ler. O livro mais difícil, denso e perigoso que já li. É um livro sem volta, depois que você leu, a vida não é mais a mesma. Caio Fernando Abreu escreveu, no conto Eles, que está no livro O ovo apunhalado, que ver é irreversível. Clarice Lispector, a autora do livro do título, faz com que vejamos.
A história é de uma simplicidade imbecil, até mesmo: uma mulher, G.H., entra no quarto que pertencera a sua empregada para arrumá-lo. Mas a empregado o mantinha arrumado, entretando não como ela gostaria. Ela se sente desolcada em sua própria casa. E vê uma barata, e sente medo. Então faz as mais profundas e simples divagações filosóficas sobre ser e existir. O que acontece com ela e a barata eu não conto, só lendo para saber.
Clarice é uma deusa, uma feiticeira, pois suas palavras enfeitiçam. Ela constroi, depois desconstroi e destroi para novamente construir e destruir e reconstruir e desconstruir. Ela acaba com o que há dentro de nós. E depois preenche. Ela escreve com as mais simples palavras, as coisas mais banais, mas vai fundo nas agonias de ser e existir. Podemos sentir a dor dela ao ler, a imensidão de sua compreensão de mundo e de pessoas, de almas, de ser, de existir, de transcender.
Confesso que tive medo.
Ler Clarice é uma experiência singular e imprescindível. Ler A paixão segundo G.H. é sofrer todas as dores da humanidade e crescer imensamente. É uma experiência de paixão.
Pra terminar este breve comentário louco, quero transcrever um pedaço do conto do Caio já referido:
"-Deixa que a loucura escorra em tuas
veias. E quando te ferirem, deixa que
o sangue jorre enlouquecendo também
os que te feriram."
Clarice o fez. Eu a feri. Ela me enlouqueceu.

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