segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia da poesia

Hoje é dia da poesia.

Pra celebrar, transcrevo uma das mais belas que li nos últimos tempo, de Hilda Hilst. Faz parte da série de poemas intitulados "Trajetória poética do ser - passeio", do livro Exercícios.

15

De delicadezas me construo. Trabalho umas rendas
Uma casa de seda para uns olhos duros.
Pudesse livrar-me da maior espiral
Que me circunda e onde sem querer me reconstruo!
Livrar-me de todo olhar que quando espreita, sofre
O grande desconforto de ver além dos outros.
Tenho tido esse olhar. E uma treva de dor
Perpetuamente.
Do êxodo dos pássaros, do mais triste dos cães,
De uns rios pequenos morrendo sobre um leito exausto.
Livrar-me de mim mesma. E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros.

Nenhum comentário: